Lixo...

Hoje sinto-me lixo, do pior caixote que pode haver, da pior lixeira que pode existir, sinto-me pisado, pontapeado, sinto-me desvalorizado como nunca antes, usado e abusado por tudo aquilo em que sempre acreditei, sinto-me um lixo capaz de repelir todas as coisas boas que me podem rodear, capaz de rodar sozinho dentro de um caixote que não tem fim ou capaz de ser levado por um contentor onde estão todas as coisas que abominamos, hoje sinto-me assim, na lama, bem assente no fundo onde para tudo o que olho, me é superior, me é impossível comparar ou alcançar, hoje fizeram-me ver que tudo o que fiz, tudo o que lutei, tudo o que mostrei, foi em vão, não serviu de nada e não vai deixar saudade, mas sim pena, pena pelo rapaz que tanto se esforçou para ser melhor que outros, que tanto fez para conhecer tudo o que podia e o que não podia, pena pelo rapaz que saltou barreiras atrás de barreiras pelo um sonho que hoje não é mais que um pesadelo... a minha mãe diz que o melhor remédio para esquecer alguém que ama-mos é odiá-lo com todas as nossas forças, mas eu não consigo, nem quero, odeio ter que odiar alguém, odeio ter que ter algo de me queixar sobre alguém, mas a verdade é que tudo fiz e de nada valeu, nem uma pequena palavra de apreço, nem um pequeno "obrigado", não o fiz por isso, mas ao fim de um ano, nunca ter ouvido um elogio, um "és querido", um "és um bom rapaz", mata qualquer um... eu podia ser como tantos outros que se congratulam por terem mil e uma mulheres, podia ser um daqueles que salta de rapariga em rapariga todas as semanas, podia ser um daqueles "sexo sem compromisso", mas não, por incrível que pareça, sou um rapaz que prefere ter uma pessoa, um rapaz que prefere a monogamia à quantidade que no fundo nos faz feliz por pequenos momentos, mas que nunca nos faz ter aquela sensação cá dentro, pelos vistos, está provado que é melhor viver assim dia-a-dia, sem expectativas, sem confianças, hoje o meu paladar é amargo e o que chega o meu coração que tanto bate a três mil a hora como a cem é azedo, do mais azedo que pode haver, chega também algo ácido que corrói tudo aquilo que sinto e transforma tudo aquilo que fiz num nada, no fundo é como se nunca tivesse feito nada, ninguém se vai lembrar daquele rapaz de Lisboa que durante um ano lutou por alguém que nem sempre esteve longe, mas nem sempre esteve perto e as lágrimas que solto não são mais que o odor que o lixo solta, aquele odor que ninguém quer estar perto, aquele odor que toda a gente se tenta afastar, é por isso que estou aqui, sozinho... talvez um dia, volte a sair do lixo em que entrei, volte a não sentir as dores de cada pontapé que levei, volte a sentir valorizado por algo por mais medíocre que seja, talvez um dia eu seja alguém, rodeado por pessoas que me aplaudem e me digam "tu tens valor", de facto, não o oiço há muito e parece que tudo o que faço e decido, faço mal, hoje deixei que decidissem por mim, deixei que decidissem onde me queriam e obtive a resposta que não queria, mas pior que isso, fiz uma grande figura de parvo e tudo o que fiz caiu em esquecimento, nada conta a meu favor, vozes de outrem dizem que era interesse, que era para passar tempo, eu sinceramente não acredito nisso ou não acreditava, hoje não sei em que acreditar, são muitas perguntas para poucas ou nenhumas respostas e esta lixeira por onde vaguei-o só me traz incertezas sobre se aqui é o meu lugar, se por tudo o que já fiz até hoje, se é aqui que mereço estar, ao abandono, entregue ao ao choro e a depressão que se propaga por cada centímetro de mim, se for, assim o aceitarei e cá estarei para colher o que eu tentei semear, que floresceu, mas que alguém envenenou e que eu por azar ou por destino, provei desse veneno..

O hoje acaba assim, veremos se o amanhã chegará