terça-feira

"Tu não estás sozinho"


Uma das maiores mentiras que te podem dizer, estás sozinho, estás e estarás sempre,quando pensares que te vão dar a mão, esquece  quando mais precisares de uma mão para te segurar, terás 20-30 acenando-te com um adeus, aí vais entender que estás sozinho, vão mandar-te mil verdades a cara para te abrir os olhos, vão fazer-te questionar se estar assim é realmente tudo o que podes fazer, vão fazer-te acreditar que és capaz de mais e do dia para a noite, vão simplesmente embora, e sabes que mais? A culpa é tua, é isso, única e exclusivamente tua e porquê? Por acreditares que alguém se preocupa realmente, por pensares que ao meteres os outros a tua frente, eles farão o mesmo, por seguires os conselhos que te dão e depois desaparecerem sem mais nem menos, porque é o que acontece, quando mais precisas de atenção é quando te vão dar espaço, quando precisas de falar, não te irão dizer nada, vão afastar-se, vão tirar o pé do acelerador quando tu mais precisas de ser pressionado, quando sabes que se ouvires um "Está tudo bem?" te vais desmanchar em peças e contar tudo o que para ti está errado na tua vida, essa pergunta não vai surgir, vão agir como se estivesse tudo normal e tu, vais ter de engolir isso em seco, quando mais precisares daquela força extra para te tirarem da cama de manhã, talvez com um "hoje vai ser melhor, vai correr melhor", é quando te empurram para dentro dos lençóis com toda a força e tu ficas e vais ficando, enrolado em ti próprio e no facto de quando mais precisaste de um Olá para quebrar o teu pensamento, quando eu teu silêncio grita por um simples "estou aqui", não aconteceu nada, ninguém falou e vais afundando cada vez mais na cama, estragando a tua vida profissional, decepcionando quem não está a par e criando um défice de prioridades na tua vida que nem tu próprio idealizas, porque tudo o que tu precisavas era que puxassem por ti, que te sufocassem, que te fizessem falar mas nada disso vai acontecer, porque ninguém quer saber e tu vais ficando mas no final, a culpa é e será sempre tua, jamais apontes o dedo a alguém por não estar lá para ti, a culpa é tua por pensares que essa pessoa iria estar disposta a tal, tu criaste essas expectativas, não ela, ela não tem culpa, nem ela nem nenhuma delas, tu é que por ingenuidade acreditaste que sim, que com uma mão se lavava a outra, mas não e acredita, haverá sempre uma justificação para não te ajudarem, por pensarem que tu precisavas de espaço, quando não precisas, por também não estarem bem ou porque simplesmente, não precisam de alguém como tu na vida delas, lembra-te, a culpa é e será sempre, tu...

Eles não precisam de ti, mas tu moldaste a tua vida para precisar deles, tu fizeste com que eles fossem parte praticamente essencial na tua vida e olha para ti agora, onde estão eles para te levantar como tu os levantaste antes? Onde está a força por ti dada um dia devolvida de volta? É feio dizer estas coisas, eu sei, mas dói demasiado perceber que somos só uma utilidade na vida das pessoas, que quando está tudo bem "Hey, bora beber um copo" e quando está tudo mal "..." é um vácuo ensurdecedor e é nesse vácuo, nessa ausência de barulho que gritam os nossos pensamentos mais melancólicos e negativos...
Hoje voltaste a não sair dessa cama, quem sabe quando voltarás a sair, talvez quando alguém realmente perceber o que se passa ou perder algum do seu tempo para descobrir o porquê de já não ires a jantares, o porquê da tua carrinha está a tanto tempo no mesmo sítio ou porquê de ninguém saber nada de ti, talvez aí sim, lhes venha a memória da pessoa que foste, não da pessoa que és, porque neste momento, não és nada, não és ninguém, pelo menos é assim que te sentes e quando não há ninguém para te chamar à razão, não há verdadeiramente outros motivos para te sentires de outra maneira...

domingo

Another weekend...

Imaginem a vida como uma parede, longa e extensa parede de tijolos, todos eles colocados de forma alinhada e simétrica, com a mesma porção de cimento entre eles, medida pela mão calejada de qualquer pedreiro ou trolha como se possa chamar, cada tijolo é moldado e colocado de uma certa forma não só para ficar bonito ou atraente, mas porque assim é que tem que ser, tijolos sem o mesmo tamanho, rachados ou com uma cor diferente, não entram nessa parede, são descartados, isolados num saco e mais tarde devolvidos ou jogados ao lixo quando se assume a postura que tal tijolo não terá outra utilidade, pois bem, eu sou um desses tijolos nesta vida, rachado por várias bolas que foram contra essa mesma parede ao longo do meu caminho, seco pelo cimento que há muito não me prende a nada e sem cor alguma de tantos dias a chuva num temporal psicopatológico que afecta até a última pitada de pedra que tenho em mim. Já não sirvo, para a parede de muita gente que me rodeava, sou apenas um tijolo a espera de ser substituído por outro, noutras fui substituído mesmo antes de notarem que já não servia, como é fácil ser-se descartado quando nos encostamos em tijolos brilhantes, perfeitamente delineados, com o peso ideal e a espessura doseada de forma cativante para os manterem distraídos de mim, dizem que "pedras no meu caminho, guardo todas, um dia construirei o meu próprio castelo", mas já se questionaram quantas dessas pedras querem ser guardadas? Quantas quererão fazer parte desse tal ambicionado castelo, quantas vezes quis eu fazer parte de algo e desprezívelmente fui ignorado ou mal entendido.
Tenho saudades, saudades de muita coisa, saudades tuas, saudades deles, saudades minhas, da pessoa que era, das piadas que mandava, ou da boa disposição matinal, tenho saudades tuas, do teu arroz de pato quando eu pedia a minha comida favorita, do teu mimo na minha secretária quando ia para a escola de manhã ou da maneira como simplesmente existias na minha vida, não dá para continuar, não dá, eu tentei, eu estou a tentar e simplesmente não estou a conseguir, o Natal está aí e a alegria que outrora se vivia, já não se vive, é como que toda a casa fosse pintada de cinzento, todas as boas memórias não existissem, não aconteceu, o Natal nunca chega aqui, mesmo no alto do meu 8º andar, o Natal foi-se embora e nunca mais voltou, nem ele, nem eu, ainda que feliz em alguns rasgos da minha vida, parece que voltas sempre, parece que me puxas de novo para ti e para o que eras, não consigo levantar-me e quando penso em ti para me ajudares, és mesmo tu que me pões em baixo... porquê que foste embora? Porquê que ainda acordo todos os dias e me lembro de ti, porquê que não consigo olhar para isso como uma coisa boa, porque graças a ti sou tudo o que sou? Porquê?
Só queria poder viver com a ideia que nunca mais te vou ver e não digo sorrir a isso, mas pelo menos não baixar a cabeça,
Sinto-me sozinho, a arder por dentro e a congelar por fora, desamparado como quem caminha descalço pelo granito, cansado como quem caminha debaixo de sol ardente, desidratado de vontade ou despido de força, não tenho nada, não sinto nada, só te sinto a ir, como senti quando era miúdo...
Só queria poder acordar de novo amanhã... 

quinta-feira

First week

Primeira semana e é uma porcaria, uma autêntica porcaria, nunca me senti tão fora do meu espaço, tão fora de uma zona de conforto, nem é o inglês, esse até que passa, já passei por isso antes, mas as pessoas, o espaço, os objectivos, não me identifico com nada e o pior é que não te posso dizer nada destas coisas, não me consegues ouvir e não consigo explodir, embora me apeteça, apetece me muito, gritar, desabafar, deixar escorrer tudo o que sinto, tudo o que penso sobre esta mudança, mas não consigo, não tenho com quem o fazer e tu já não estás aqui, aposto que tens visto que mal tenho comido e que a médica disse-me que tenho aquele problema de vitaminas na terça, mas não tenho fome, não consigo, é como se andasse sistematicamente com um nó, desde a garganta até a apêndice, não entra nada e não sai nada, não falo, não digo o que se passa, é como se fosse um cadáver que apenas acena com a cabeça, ele já me chamou robot, diz que as minhas respostas são sempre as mesmas e que já desistiu de tentar alguma coisa, até ele lol que nunca vira as costas...
Gostava muito que estivesses aqui todos os finais de tarde, que aquela pergunta "como foi a escola?" se tornasse moderna e habitual como "como está a correr a formação? Gostas?", e embora te conte todas as noites entre longos monólogos ou um apenas "estou aborrecido", não é a mesma coisa, nada é a mesma coisa e acho que estou novamente a vacilar, 5 anos depois da última vez, estou a sentir-me novamente assim, não quero, não quero mesmo na
da, mas nada disto ajuda, nada de nada e desculpa se voltar a recair, mas neste momento sinto uma pressão enorme e as minhas pernas estão a começar a ceder ao peso das minhas costas, não estou a conseguir lidar com isto nem com nada que apareça na minha frente, só espero que me desculpes...

sexta-feira

New begining

Hoje, comecei mais uma etapa na minha vida e mais uma vez, não estás aqui para opinar, não estás aqui para me dar os parabéns ou para criticar a minha escolha, hoje, mais uma etapa, mas a primeira em direcção a minha área, a primeira em prol daquilo que me formei e tu não estás aqui como disseste que estarias, será egoísmo mencionar isto? É apenas a constatação de um facto, hoje pela primeira vez, dei um passo no caminho certo, penso eu, dirias tu, mas tu não falas, não opinas, nem dás um ar da tua graça, no entanto, eu acredito que viste e acredito que estiveste lá comigo, segunda-feira começa a doer e eu acredito que estarás lá, sentada perto de mim, apontado o que devo escolher, murmurando o que devo questionar e apoiando cada resposta que eu der, pelo menos, quero acreditar que sim, caso contrário, nada disto fazia sentido...

quinta-feira

O ontem vivido hoje...

É difícil, é muito difícil, quando dás por ti, passaram-se mais de 10 anos e nada, era assim que pensavas que ia ser? Era assim que esperavas crescer e ver tudo a tua volta, finalmente aquela pergunta do "onde te imaginas daqui a 5 anos?" faz sentido? Não. Nada faz sentido, mais de 10 anos e nada, nada de nada, a saudade bate à mesma hora que bateu naquela primeira noite após o choque, o pesadelo é o mesmo, a mesma curta metragem que assombra noventa por cento das tuas noites, aqueles 5, 10, 15 minutos sentado na cama antes de adormecer, pensando como seria bom, se ainda estivesses ali, aos pés da cama, assistindo a novela enquanto esperavas que adormecesse, são os mesmos, a lágrimas caem na mesma dose, perfeitamente doseada com o mesmo nível de sal que caíam quando eras criança, no fundo, ainda és uma criança, pois passaram-se mais de 10 anos e ainda não ultrapassaste, ainda não a ultrapassaste, ainda lutas todos os dias como quando eras um miúdo, como quando te disseram que ela ia lá para cima olhar e tomar conta de ti, quando continuas a achar que não é egoísmo quere-la a tomar conta de ti, aqui em baixo e não de lá de cima como te disseram em tempos, quando ainda vestes uma camisa para ir ao cemitério porque ela odiava ver-te desengonçado, desfraldado ou simplesmente não apresentável, ainda és uma criança por achar que lá no fundo, bem lá no fundo, ela ainda olha para ti, ainda toma conta de ti e ainda te dá sinais dos caminhos que deves seguir, quando ainda rezas por ela, ou lhe contas em murmúrios os teus feitos, os teus dias ou lhe conferencias os teus amigos, quando ainda que em lágrimas, rezas o que te ensinou "anjo da guarda minha companhia guardai a minha alma de noite e de dia" antes de dormir, por isto tudo e por muito mais ainda és uma criança.

Mas vais ter de ultrapassar, vais ter de te conformar com o facto que já se passaram 10 anos e ela não voltou e nunca vai voltar, poderá como tu acreditas, esperar por ti lá em cima, mas não voltará cá a baixo e essa cabecinha tem de se levantar, tem de olhar em diante e usar essa força para se recompor, podes sempre voltar aqui e escrever o que te apetecer, desabafar o tanto que te apeteça, como já o fizeste tantas vezes, como o vais fazendo, como o estás a fazer agora, mas nada disso a trará de volta, nada disso mudará a tua vida...

Por mais que escrevas estas coisas, sabes que nada vai mudar o que sentes, o que pensas ou como ages, por mais que escrevas, vais continuar a chorar antes de ir dormir, vais continuar a ter o pesadelo como sessão inconsciente favorita e vais continuar a desviar as pernas na esperança de sentir o peso sobre a roupa que te cobre os pés ao fundo da cama e nada disso acontecerá, o mais triste é que nada disso acontecerá, mas tu acreditas, porquê? Porquê que acreditas em algo que tantos murros no estômago já te deu e continuará a dar, que tantas horas de sono te retirou que o tempo não devolverá, que te fez drenar tantas lágrimas que apenas uma almofada húmida te as secou, porquê?
O mais triste é que mesmo com as evidências todas, tu acreditas, mesmo com mais de dez anos em cima, tu acreditas, como no mesmo dia após o choque, porque após dez anos, ainda olhas para a foto na tua cabeceira, com o mesmo amor, com o mesmo carinho e a mesma necessidade de quando tinhas apenas doze anos e choras, choras porque não te lembras como era o tacto dela, porque ainda te tentas lembrar da voz dela a chamar o teu nome quando fazias asneira, porque embora ainda tenhas camisolas dela escondidas em casa, o cheiro à muito que se foi, inundado num perfume de gaveta ou armário para não ganhar mofo e choras essencialmente porque não consegues dizer estas coisas, porque preferes esconder ou apenas acenar com a cabeça quando te perguntam se tens saudades, não são só saudades, tens necessidade e essa necessidade nunca vai ser realizada, essa calma interior pode ser amenizada mas nunca reposta na totalidade, choras porque esbarraste em alguém na tua vida que te recorda dela, que tem traços bastantes expressivos dela, a maneira como te rouba aquilo que pensas sem sequer teres noção disso, as frases com a mesma entoação e a gargalhada que te desorganiza completamente a cabeça, as vezes, só precisamos de alguém para dizer isto tudo, mas tu não, tens sempre de ir pelo caminho da opressão e do está tudo bem e cá estás tu novamente, a chorar por ela e por tudo o que escreveste aqui, e agora?