domingo

Another weekend...

Imaginem a vida como uma parede, longa e extensa parede de tijolos, todos eles colocados de forma alinhada e simétrica, com a mesma porção de cimento entre eles, medida pela mão calejada de qualquer pedreiro ou trolha como se possa chamar, cada tijolo é moldado e colocado de uma certa forma não só para ficar bonito ou atraente, mas porque assim é que tem que ser, tijolos sem o mesmo tamanho, rachados ou com uma cor diferente, não entram nessa parede, são descartados, isolados num saco e mais tarde devolvidos ou jogados ao lixo quando se assume a postura que tal tijolo não terá outra utilidade, pois bem, eu sou um desses tijolos nesta vida, rachado por várias bolas que foram contra essa mesma parede ao longo do meu caminho, seco pelo cimento que há muito não me prende a nada e sem cor alguma de tantos dias a chuva num temporal psicopatológico que afecta até a última pitada de pedra que tenho em mim. Já não sirvo, para a parede de muita gente que me rodeava, sou apenas um tijolo a espera de ser substituído por outro, noutras fui substituído mesmo antes de notarem que já não servia, como é fácil ser-se descartado quando nos encostamos em tijolos brilhantes, perfeitamente delineados, com o peso ideal e a espessura doseada de forma cativante para os manterem distraídos de mim, dizem que "pedras no meu caminho, guardo todas, um dia construirei o meu próprio castelo", mas já se questionaram quantas dessas pedras querem ser guardadas? Quantas quererão fazer parte desse tal ambicionado castelo, quantas vezes quis eu fazer parte de algo e desprezívelmente fui ignorado ou mal entendido.
Tenho saudades, saudades de muita coisa, saudades tuas, saudades deles, saudades minhas, da pessoa que era, das piadas que mandava, ou da boa disposição matinal, tenho saudades tuas, do teu arroz de pato quando eu pedia a minha comida favorita, do teu mimo na minha secretária quando ia para a escola de manhã ou da maneira como simplesmente existias na minha vida, não dá para continuar, não dá, eu tentei, eu estou a tentar e simplesmente não estou a conseguir, o Natal está aí e a alegria que outrora se vivia, já não se vive, é como que toda a casa fosse pintada de cinzento, todas as boas memórias não existissem, não aconteceu, o Natal nunca chega aqui, mesmo no alto do meu 8º andar, o Natal foi-se embora e nunca mais voltou, nem ele, nem eu, ainda que feliz em alguns rasgos da minha vida, parece que voltas sempre, parece que me puxas de novo para ti e para o que eras, não consigo levantar-me e quando penso em ti para me ajudares, és mesmo tu que me pões em baixo... porquê que foste embora? Porquê que ainda acordo todos os dias e me lembro de ti, porquê que não consigo olhar para isso como uma coisa boa, porque graças a ti sou tudo o que sou? Porquê?
Só queria poder viver com a ideia que nunca mais te vou ver e não digo sorrir a isso, mas pelo menos não baixar a cabeça,
Sinto-me sozinho, a arder por dentro e a congelar por fora, desamparado como quem caminha descalço pelo granito, cansado como quem caminha debaixo de sol ardente, desidratado de vontade ou despido de força, não tenho nada, não sinto nada, só te sinto a ir, como senti quando era miúdo...
Só queria poder acordar de novo amanhã... 

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