sexta-feira

Segredos de uma alma escondida

Os meus segredos, até então escondidos, serão hoje desvendados para todos aqueles que me conhecem, ou que pelo menos julgaram conhecer-me, na verdade, ninguém me conhece realmente, ninguém sabe a minha história ou o que passei...
Daqui, escreve-vos alguém que deixou tudo para trás, alguém que abandonou tudo aquilo em que acreditava e desistira de tudo aquilo pelo que lutava, alguém que não se considera alguém, que tentou caminhar em linha recta neste Mundo redondo e que falhou, alguém que tentou tocar o céu sem nunca tirar os pés do chão e alguém que tentou contar as estrelas em noites nubladas.
Chamo-me Carolina Figueiredo, ou apenas Carol, como me tratavam, nunca gostei muito, dava-me a ideia que era um diminutivo que me tornava fraca, uma pobre coitada, aplicava-me um ar querido mas nunca o apreciei muito, hoje, quero abrir o meu livro, quero que deixem de me julgar pela capa e que saibam o que realmente aconteceu, quero que entendam porquê que há imenso tempo estou nesta piscina funda sem escada, hoje longe de tudo e de todos, vão saber quem sou verdadeiramente...
Diante deste crepúsculo denso, a ambivalência encaixa-se em mim, como é que ninguém reparou, como é que ninguém percebeu que eu, já não era eu, o horizonte não tem qualquer sentido para mim e embora gostasse de quem antigamente me rodeava, também deixaram de fazer sentido, nunca fui muito de me guiar pelos gostos dos outros, nunca me encaixei num grupo específico, não conseguia identificar-me com ninguém em especial, sempre fui uma rapariga solitária, sombria como muitos me adjectivavam, sentia-me bem com isso, sempre gostei de ser diferente, não saberia era o quanto iria sofrer com isso...
Agora nos confins deste quarto sei o que custa ser diferente, sei o que custa enfrentar uma realidade que não é a que todos estão habituados e nem mesmo eu me habituei ainda, tenho cancro e tenho apenas dezasseis anos, fui obrigada a deixar a escola no Natal passado pois já não conseguia ser olhada daquela forma, o olhar deles era malicioso, penetrava-me o coração e a forma como observavam a minha cabeça, deixava-me de rastos... tinha perdido o cabelo devido a quimioterapia que fui exposta e a maneira como os mexericos começavam sempre que eu percorria um corredor, percorriam me o pensamento impedindo-me de percorrer qualquer raciocínio. Hoje escondida neste quarto, o meu espírito descansa e posso abstrair-me daquilo que sou verdadeiramente, muitos dizem que gostam de mim, simplesmente porque a rede social que uso permite que não revele a minha verdadeira identidade, desde que deixei a escola, tenho me refugiado neste pseudónimo que tanta alegria trás para alguns, "Liz", é este o meu nome e neste lugar onde escrevo e deixo tudo o que sinto numa página, sou perfeita, tenho a vida que sempre sonhei e idealizo todas as experiências que nunca vivi, para os meus leitores sou de facto uma rapariga cheia de sorte, que com dezasseis anos tem uma longa vida promissora pela frente... na verdade, a minha vida não é assim tão promissora e muito menos longa, um dia o mais certo será desaparecer de um dia para o outro e as minhas páginas cairão no esquecimento, assim como eu, as vezes, leio coisas que me deixam triste por dentro, quase sem alma, raparigas minhas leitoras que também escrevem, dizerem que gostam imenso dos namorados e que os seus beijos são tão tenros que as deixam derretidas em plenos Invernos gelados. Serei assim tão invisível? Nunca soube o que é isso, nunca beijei um rapaz e nunca me aproximei de nenhum sequer, mas mesmo nesse campo, na minha página sou uma pessoa rodeada de amor e carinho, tenho as pessoas perfeitas a meu lado, realmente tenho, quando escrevo...
Gostava de ter alguém com quem pudesse conversar, alguém com quem eu pudesse ser eu, pudesse deixar a minha alma solta por aí, muitos dizem que o segredo é a alma do negócio, bem, a minha alma está cheia de segredos sem negócio nenhum, de facto, ao julgarem o meu corpo, doente e cansado, desprezaram a minha alma, nunca me deram uma verdadeira oportunidade de mostrar quem sou, o que sou ou como penso, excluíram-me sempre.
Hoje, nas voltas do meu compasso, acho que a borracha foi injusta comigo, sinto a necessidade de traçar uma nova linha, sem qualquer esquadria, nunca fui espontânea nem nunca fui impulsiva, mas hoje tenho essa vontade, quero passar a verdade para o papel, no entanto não quero contar pelo que passei ou o meu passado, só quero que saibam o que estou a passar e que passem a conhecer o presente de alguém a quem o futuro será tirado... quero exprimir-me e mostrar como estou e deixar de lado como sempre estive, de agora em diante, quero ser como sou, assumir sem medo e largar o que era no papel, porque na realidade nunca o fui e nunca o serei, também não sei para onde irei, mas saberei sempre o que fui... 

14 comentários:

Anónimo disse...

não gostava de ir porque gostava de continuar a anónima xD Obrigado**

Claudi disse...

omg, fiquei um bocado parva a ler isto :o r: obrigada :D

Anónimo disse...

eu sei que não, mas se for fico o evento todo com a sensação de que tenho "Yes, I'm crazy" escrito na testa xDD

Claudi disse...

r: porque fiquei chocada :S

Rachel ★ disse...

R: Obrigada

Bjnhs*

Anónimo disse...

Está mesmo muito giro o teu texto!
R: Também não conheço ninguém desta zona mas também não tenho intenções de conhecer bloggers pessoalmente pois quero permanecer "desconhecida" se é que me entendes! Bem, não fiques chateado mas não te imaginava nada com 22 anos, talvez com 15 ou 16, talvez seja porque eu só tenho 14!
teen-by-teen.blogspot.pt

Jovem $0nhador@ disse...

Este texto está lindo =) Emocionei-me a ler!

Anónimo disse...

esta perfeito, parabens! ;)

Inês disse...

obrigada pela participação, Pipo!

Anónimo disse...

gostei imenso do texto :)

Isabela Sofia disse...

Maravilhoso! Mais um texto magnífico!
Boa sorte e que ganhe o melhor texto!

- Isabela

Isabela Sofia disse...

Não tenhas assim tanta a certeza...
Sim, era horrível. Pensei nesse tema pois já não havia sido à muito tempo que tínhamos falado de Anne Frank durante uma aula de Português.

R: Já pensei muito nisso. Não consigo pensar em nada. Se fosse algo como os desafios da Inês - uma frase e asas à imaginação - ajudava.

- Isabela

Isabela Sofia disse...

Nunca cheguei a ler "O Diário de Anne Frank", mas irei, não num futuro próximo, mas irei.

- Isabela

Isa disse...

deixaste me quase com uma lágrima no olho com este texto :o amei! :)