Pensava eu que não fazia sentido as pessoas que diziam que sentiam a maior dor de todas, até me aperceber que o meu mundo tinha um pilar, um motivo, uma razão para me fazer continuar a acreditar nisso. Iludia-me dia-a-dia com o facto de que isso nunca iria acontecer e mesmo que acontecesse, conseguiria superar tudo sozinho e de que nunca iria precisar de ninguém. E foi exactamente aí que me enganei...
Hoje sei o que é sentir o céu a cair, o mundo a ser totalmente destruído e o universo a explodir num só segundo. E sabes? Doeu mais do que alguma vez algo doeu, mais do que fracturar qualquer membro, mas do que um "não falo mais contigo". Foi uma dor diferente. E tudo mudou!
Mudou porque não te tenho. Já não tenho o calor do teu abraço, a ternura da tua voz, o toque suave que tinhas, o mau feitio que me dava mais e mais vontade de estar a teu lado porque me desafiavas a cada segundo e me ensinavas a lutar pelos meus ideais com a garra de uma super mulher, tal como tu.
Confesso que te julgava eterna. Julgava que iria ter o prazer de viver contigo até encontrar o meu caminho, julguei tanto e acabei desiludido. Não contigo, mas com a vida, a vida que acabou a partir do momento em que desapareceste e em que me cá deixaste, desamparado, as voltas neste compasso sem grafite para desenhar os meus caminhos, ou sem um "estou aqui" como tantas vezes me dizias.
Pior que te perder, foi mesmo o facto de te ver ir aos poucos e sentir-me sempre frustrado por não te conseguir ajudar,não ficaste doente sozinha, o meu coração adoeceu contigo e nunca mais se vai curar, há sequelas e sequelas, mas a tua, ficará para vida, uma cicatriz no meu córtex frontal. Mais frustrante é pensar em tudo o que dissemos um ao outro, que não íamos desistir, que íamos enfrentar aquelas horas de quimio e lutar com tudo o que tivéssemos.
Desculpa, desculpa ter falhado, desculpa ter ido visitar-te naquele último dia, em que já não falavas, quase não abrias os olhos, mas fizeste um esforço, para mim, lembro-me tão bem, fui a única pessoa para quem os abriste no teu último dia. Não dependia da minha vontade, não dependia da minha força ou do meu modo de enfrentar tudo. Não dependia de ninguém mas mesmo assim, eu tentei, eu juro-te, tentei com tudo o que tinha e tudo o que não tinha e o que eu chorei naquele corrimão após ter saído da tua sala, rodeado de frases vazias mas cheias de intenções, "ela vai ficar bem", "está tudo bem" ou "tu és forte", eu sabia que nada disso era verdade, nem eu era forte, nem tu ias ficar bem nem tudo estava bem, nem hoje mesmo está.
E agora... agora dói e vai continuar a doer, eu choro e vou continuar a chorar mas de uma maneira diferente e simples, mudo e quieto. é assim a minha dor.
Porque não preciso de chorar em frente a ninguém ou até mesmo falar de ti para saberes que sinto a tua falta e que sem ti a vida perdeu a cor ou o sentido que tu lhe davas. E abdicaria de tudo só para te poder dar mais um abraço ou ouvir um grito teu a mandar-me tomar banho ou para a cama depois do jantar.
O amor, esse é inquestionável e está bem patente aqui dentro, longe dos olhares curiosos ou das perguntas carregadas de farpas de quem não tem vida própria, é eterno e na minha cabeça tu fazias todo um sentido e esse sentido e continuar esta caminhada para te mostrar que continuas viva em mim. Eu a
mo-te mais do que isto, mas as vezes as palavras são difíceis de proferir, complicadas de ingerir e intrigáveis de digerir, porque não estás aqui.
2 comentários:
r: Muito obrigada parvo :b
Li o que escreveste e arrepiei-me. Nunca sabemos que dor é que os outros carregam. És forte e grande!
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